A carioca Ana Maria Machado nasceu em 1941 no morro de Santa Teresa e cresceu nas areias de Ipanema. Antes de se entregar ao mundo das letras, iniciou a faculdade de Geografia e dedicou-se à pintura num curso que fez no Museu de Arte Moderna no Rio.
As férias de infância junto com os primos e a casa repleta de livros foram marcos importantes na sua formação enquanto escritora. Como ela mesma já declarou várias vezes, ela vive inventando histórias, algumas ganham vida em papel e muitas delas transformaram-se em livros, aliás muitos livros (mais de 100). Como uma das principais figuras da revista Recreio, no começo dos anos 70, teve participação efetiva na mudança do tratamento dado aos textos infantis, numa continuidade à proposta lobatiana.
Ana Maria Machado foi professora, jornalista, dona da livraria Malasartes, já fez programa de rádio e hoje vive da e para a literatura. A produção de textos que o público infantil também pode ler foi a origem da fama dessa escritora. A versatilidade da atual ocupante da cadeira de número 1 da Academia Brasileira de Letras revela-se em seus romances e textos teóricos. No ano de 2000, Ana Maria Machado recebeu, pelo conjunto de sua obra, o prêmio internacional Hans Christian Andersen, considerado Nobel da literatura para crianças e jovens. Os prêmios multiplicam-se e retratam a qualidade literária não restrita à obra dita infantil de Ana Maria Machado.
Tal qual Raul, um de seus personagens mais famosos, Ana não conseguiu manter-se omissa diante das imposições da ditadura militar e foi presa em 1969. Diante da pressão política, exilou-se voluntariamente e trabalhou basicamente como jornalista. O protesto em relação ao poder imposto é uma constante em suas obras. Em seu livro Contracorrente: conversas sobre leitura e política (1999), ela assume esse posicionamento contestatório:
Sou mesmo contra a corrente. Contra toda e qualquer corrente, aliás. Contra os elos de ferro que formam cadeias e servem para impedir o movimento livre. E contra a correnteza que na água tenta nos levar para onde não queremos ir. No fundo, tenho lutado contra correntes a vida toda. E remado contra a corrente, na maioria das vezes. Quando as maiorias começam a virar uma avassaladora uniformidade de pensamento, tenho um especial prazer em imaginar como aquilo poderia ser diferente.
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